17 outubro 2007

O velho das punhetas

Dos autores do blog
Uma vez, numa das minhas viagens pelo meu país, encontrei um velho de cariz muito interessante. Ora estava eu numa loja de reparações de solas de sapatos (logo pela função da loja é possível admitir a sua raridade e extinção num futuro próximo). Ora estava lá eu, e um tipo altamente labrego, mas contudo educado, estava a concertar um par de sapatos meus. Acontece que o tipo não se calava! Sempre a falar do raio do trabalho dele e lá da aldeia. E de cinco em cinco minutos entrava gente, só para o cumprimentar.
Acontece que, minutos perto do tipo acabar de concertar os meus sapatos, entra um velho. Tipo com cara saudável, cabelo ainda castanho e sorridente. O homem da loja assim que o vê diz:
“Aí, só faltava este.”
O outro não diz nada. O tipo da loja continua:
“Então pa, gostaste de ver aquelas meninas do pavilhão desportivo á bocado não? Tou mesmo a ver que sim.”
E o velho entre dentes risse feliz. Não é que o tipo da loja se vira para mim e diz:
“Este homem aqui ao teu lado, tem 72 anos e ainda bate á punheta.”
O velho riu-se e tentou dizer alguma coisa, mas não lhe saiu nada.
Eu, lá fiquei a pensar. Será que aquele velho seria eu? Será que daqui a muitos, muitos anos, eu, já velho e podre, com uma mão fraquinha e a cair aos bocados ainda irei cometer esse prazer pouco católico?
Não sei porquê, mas naquele momento, o velho chocou-me, e ainda hoje me recordo dele, talvez com algum rancor. Rancor por saber que ele com 72 anos ainda o faz, e que eu, provavelmente quando tiver a sua idade também o farei. Porra… quando crescer vou ser um velho mesmo nojento =(
…e contudo, feliz. [1]

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